A celeuma que esta “dúvida existencial” tem gerado despertou a minha atenção.
Se consultarmos um dicionário da língua portuguesa, rapidamente nos apercebemos que “prenda” e “presente” são sinónimos: expressam algo que oferecemos a alguém.
A palavra “presente” tem origem no termo em latim “praesens, -entis” que significa “presente”, estar diante de alguém. O “presente” pretende, como tal, assinalar a nossa presença (ainda que muitas vezes em espírito) através de uma oferta (que não tem de ser, necessariamente, material).
Por sua vez, a palavra “prenda” tem origem no termo em latim “pignuns” que significa penhor, hipoteca – garantia reais. Contudo, tem também o significado de penhor do amor de filhos, netos, pessoas queridas; ou, na versão plural neutro de pignuns (pignora) enquanto objetos de afeição. Significa, como tal, que entregamos algo ao outro como sinal do nosso amor, carinho ou amizade; que a nossa oferta é uma garantia (daí a justificação da associação a “penhor”) do nosso amor, amizade e carinho.
Ao consultarmos os dicionários de Raphael Bluteau e António de Moraes Silva – referências incontornáveis da evolução do vocabulário português – percebemos que “prenda” e “presente” são sinónimos de “ofertas”.
Como refere Raphael Bluteau, “prenda significa penhor amoroso, como jóias e outros donativos que amigos ou namorados dão em sinal da sua amizade ou amor”.
Na verdade, já no século XVI “prenda” e “presente” apareciam como sinónimos.
Fernão Mendes Pinto, na sua obra “Peregrinação”, utilizou o termo “prenda”:
“tomai vós estas moedas e levai esta prenda para o vosso Chifu”.
como sinónimo de oferta.
Luís de Camões, nos Lusíadas, utilizou a palavra “presente” com o mesmo significado:
“Recebe o Capitão alegremente
O mensageiro ledo e seu recado;
E logo manda ao Rei outro presente.”
Enquanto celebração cristã, a utilização do termo “prenda” ou “presente” no Natal poderá encontrar nos textos bíblicos a sua explicação. Estes, na versão portuguesa, referem a palavra “presente” mencionando as ofertas que foram atribuídas aquando do nascimento de Jesus.
Segundo o Evangelho Segundo São Mateus, os Reis Magos
“Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e prestaram-lhe homenagem. Depois, abriram seus cofres, e ofereceram presentes ao menino: ouro, incenso e mirra.”
Como tal, sendo o Natal a celebração do nascimento de Jesus Cristo, a palavra “presente” aparece como preferencial a aplicar nesta quadra natalícia.
Fica, contudo, por descortinar se a versão original dos textos bíblicos em hebraico, aramaico ou grego sustenta a tradução para “presente”.
Questão que só apenas um filologista exímio, como o Senhor Professor Educador Lourenço, poderá descortinar.
Cristina Cunha says
Muito interessante. Também era uma dúvida que eu tinha. Boa ideia este esclarecimento.