Este é um dos pontos em que sempre fui (e sou) mais intransigente com os meus filhos.
À mesa, é tempo de reforçar o contato visual com os nossos interlocutores, falar/interagir com a família e desfrutar da partilha de uma refeição em família.
Frutos dos tempos modernos, as refeições entre amigos e familiares têm, cada vez mais, menos regularidade. Como tal, devem ser verdadeiramente apreciadas e transformadas num momento em que estamos, efetivamente, disponíveis para o outro.
A mesa não comporta, por isso, um lugar para o telemóvel ou tablet. As refeições à mesa são um ritual social importantíssimo para que possamos reforçar laços com os outros. O foco da nossa atenção deve estar no(s) outro(s) com quem partilhamos a mesa e, jamais, num dispositivo eletrónico.
Enquanto pais, devemos ensinar os nossos filhos através do exemplo deixando os nossos telemóveis fora da mesa também. Caso tenhamos necessidade de responder a um telefonema/mensagem/email profissional urgente (o que, invariavelmente, vai acontecer), devemos pedir licença para nos ausentarmos momentaneamente para o fazer. Tal demonstrará respeito e consideração para com quem partilhamos a mesa de refeição.
A presença de brinquedos, telemóveis, tablets, televisões para “distrair” as crianças enquanto comem – ou para os próprios adultos continuarem a trabalhar enquanto estão num momento de refeição em família distorce a essência do papel da refeição.
Por um lado, mistura contextos (pessoal com profissional; hora e local de brincar com hora da refeição); por outro lado, expõe, desnecessariamente, as crianças (e os adultos) ao estímulo do ecrã não permitindo a criação de um ambiente de partilha e convívio familiar. Por fim, se as crianças estiverem focadas noutros objetos, não terão disponibilidade para explorar, sentir, escutar, conhecer novos alimentos e novas histórias e, acima de tudo, não terão disponibilidade para apreender tudo aquilo que uma refeição em família lhes pode proporcionar.
As crianças que foram estimuladas a comer sob a distração de dispositivos eletrónicos não só têm uma maior propensão para rejeitar alimentos novos como uma menor capacidade de comunicação (não lhes foi permitido o desenvolvimento linguístico que deverá surgir num ambiente familiar de refeição).
Por outro lado, estas crianças têm também maior dificuldade em perceber o seu grau de saciedade (ficam tão focados no conteúdo que estão a visualizar) ingerindo uma quantidade superior ao necessário para prolongarem o tempo de exposição aos ecrãs.
E nós, adultos, se estivermos preocupados em responder ao e-mail urgente que acabámos de receber – ou em ver o último post do Instagram das nossas contas preferidas – não só não conseguiremos ensinar pelo exemplo como, na essência, deixamos de ter possibilidade para ensinar os nossos filhos por falta de disponibilidade mental para tal e de aprender com os nossos próprios filhos.
À mesa também se educa e aprende-se em família.
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