Isto da comida tem muito que se lhe diga. Muito mais do que uma necessidade básica, comer – e cozinhar –, especialmente em conjunto, é todo um ritual quase místico. (…)
Joana Andrade Nunes – advogada, mas aqui a profissão pouco interessa – sabe tudo o que há para saber desses momentos: cresceu à volta da mesa. “Beirã de gema”, como a própria se descreve, na sua família, oriunda do Sabugal, a relação com a comida é um caso sério. “É uma desculpa para tudo”, resume. “Gosto de cozinhar, de por uma mesa bonita, de ter flores, de receber e depois ficar a partilhar a refeição sem pressas”.
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O caminho natural da vida pôs Joana a pensar – e a fazer – as tarefas culinárias que competiam aos membros mais velhos. “Neste momento o arroz doce já sou eu que faço. Saltou uma geração”. Joana já tinha um blogue – o “Camomila Limão” – que é, desde há uns anos para cá, o seu caderno de receitas online. Mas depois de se ter deparado com a velhice das avós que ia chegando – assim como as novas vidas da família, entre as quais se contam os seus dois filhos pequenos, quis deixar para a geração futura o legado que recebeu da mãe e avós.
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Assim nasceu o livro “Quatro Gerações À Mesa”, onde a advogada reuniu as receitas de que mais gosta da avó, da mãe, as suas e também as que prepara para a quarta geração da família: os seus filhos.
O que começou como um caderno para “memória futura” tornou-se num caso de sucesso. O “Quatro Gerações à Mesa” foi eleito no ano passado como o melhor livro de culinária de Portugal 2016 na categoria “Food and Family” pelo concurso “Gourmand World Cookbook Awards” – uma espécie de óscares para livros de cozinha. Segundo Edouard Cointreu, presidente do júri, este é um livro especial porque “nos séculos passados não era assim tão usual ter quatro gerações à mesa. E isso é raro agora. Este livro excelente mostra quão importante isso é e partilha essa experiência”, considerou.
Agora, o livro está na final mundial do “Gourmand World Cookbook Awards”, que se vai realizar na China. Os vencedores serão conhecidos no final de maio.
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No dia em que recebeu o SOL, a filha de Joana, Maria do Carmo, completava seis meses. Uma das avós eternizada no livro morreu recentemente. Um ciclo que se fechou, outro que começa.
Mesmo que não ganhe o melhor livro a nível mundial, Joana, com a filha ao colo, responde: “Escrevi o livro para criar memória futura. E essa é a minha vitória.
https://sol.sapo.pt/artigo/550672/a-culinaria-que-une-geracoes
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